quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Olhares da Exposição

Balança: Decidi falar sobre este objecto, pois quando o observei senti que havia ali algo que transcendia o “fazer por fazer”. Vi que ali existia uma certa ligação a um passado, a um tempo mais remoto, tempo esse que se identifica, certamente, com a infância do autor. Antigamente, as balanças nada tinham que ver com as actuais (digitais, electrónicas, muito fáceis de utilizar). As balanças utilizadas pelos nossos antepassados eram um pouco mais simples, e que exigiam um maior esforço de percepção, e não traduziam exactamente a realidade. Este tipo de balanças permitia equilibrar dois objectos, sendo que, normalmente, num dos lados da balança estava contido um peso (o peso que se desejava obter) e no outro lado da balança seria colocada a quantidade certa até se obter um equilíbrio, de modo a que fosse possível ter uma percepção mais ou menos exacta daquilo que se havia pesado. Talvez eu não tenha escolhido este objecto pelo facto de me identificar com ele, porque isso não seria verdade, visto que, desde que me lembro, nunca me foi necessário utilizar uma balança tão antepassada, tão pouco evoluída, quando comparada com as balanças que tenho actualmente à minha disposição. No entanto, acho uma certa graça, uma certa piada, a este objecto. Talvez porque me traduz a ideia de equilíbrio e de estabilidade, que são algumas das características que aprecio bastante, seja em que aspecto for.

Boneca: Identifiquei-me muito com este objecto e achei muito interessante a forma como foi feita esta boneca. Foram utilizados dos mais variados elementos da natureza, particularmente o vestido é feito com o revestimento das espigas de milho, o que me fascinou bastante, e me levou a pensar que a boneca era talvez um dos objectos dos quais deveria falar, e explorar. Na minha infância, sempre fui muito ligada ao “brincar às bonecas” ou como dizem as crianças “de hoje” mais frequentemente, “brincar às barbies”. Esta boneca faz-me recordar um pouco esses tempos, em que deixava tudo, desde a atenção dos meus pais, aos desenhos animados na televisão, para ir brincar às bonecas com as amigas. Era fascinante a forma como lidávamos com as bonecas. Dávamos-lhe vida, incutíamos nelas uma personagem só nossa, criada e imaginada unicamente por nós, que traduzia, naturalmente, os nossos sonhos a realizar no futuro (ter uma casa cor de rosa, recheada de roupinhas e sapatinhos). Embora esses tempos fossem demasiado fantasiados, e demasiado fascinantes para serem verdade, naquela altura era impossível imaginar que a vida seria de outra forma, que passasse para além do mundo cor-de-rosa que construíamos cada vez que dávamos vida a mais uma boneca. Infelizmente, com o tempo vamos crescendo, assumindo papéis mais complexos e que exigem de nós uma maior responsabilidade e percebemos, por fim, que aqueles tempos fantasiados e mágicos eram apenas fruto da nossa imaginação e do nosso espírito de criatividade. Percebemos que o mundo é muito mais cinzento do que cor-de-rosa, e que nem sempre podemos fazer algo que contrarie esse facto. Pois como diz o velho ditado, “contra factos, não há argumentos”. E de facto não há argumento algum que contrarie essa realidade, a não ser que, dando asas à apologia de Fernando Pessoa, a solução seja o refúgio no sonho e na infância, em que tudo parecia ser perfeito, e em que os problemas eram algo alheio à nossa vida. Talvez a realidade seja dura demais, e por vezes é necessário encontrarmos um certo equilíbrio, algo que nos faça, por escassos momentos, esquecer a nossa verdadeira existência, o nosso mundo exterior, e mergulhar num mundo perfeito, num mundo só nosso, mundo esse em que as bonecas, as fantasias, a natureza e todas essas vivências mágicas sejam tudo o que existe. E nada, nada pode tirar isso, nada nos pode impedir de sonhar, nem que seja uma só vez na vida.

Sofia Raquel Guedes, 12ºA, nº26

Sofia, Obrigado.
João Costa